segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tiririca e Sarney


O Richard Nixon certa vez defendeu sua nomeação de um juiz reconhecidamente inadequado para a Corte Suprema americana com o argumento de que a mediocridade também precisava estar representada no tribunal. Perfeito. Todos os tipos de cidadãos devem ser representados numa democracia. Nesse sentido o recém-empossado congresso brasileiro talvez seja o mais representativo da nossa história.


Além dos medíocres, muitos outros brasileiros têm voz, ou pelo menos presença de terças a quintas, no Congresso. Alguns setores são até super-representados, como o dos grandes proprietários rurais e o dos milionários. Apesar destes pertencerem à menor minoria no país, têm uma bancada bem maior que a da maioria pobre. Mas, em geral, todos os eleitores brasileiros, todos os tipos e todas as características nacionais, têm representação em Brasília. Não lamente o novo Congresso, portanto. Eles são nós.

Tomemos o Tiririca e o Sarney. Os dois seriam exemplos, respectivamente, de desvirtuamento do processo eleitoral e de aviltamento dos costumes políticos, uma vergonha. Ou duas vergonhas. Tiririca um inocente transformado em legislador por uma galhofa, Sarney eternizando-se no comando do Senado pelo seu poder de manobra e de conchavo, um cordeiro e uma raposa representando os extremos da nossa desilusão com a fauna parlamentar.

Mas Tiririca não representa apenas os palhaços do Brasil. A galhofa que o elegeu é uma manifestação política, ou anti-política, que tem história no país e ou representa os que não sabem nada de nada e não querem saber, ou os que sabem tanto que votam em palhaços e rinocerontes para protestar.

De qualquer forma, os simples e os enojados também têm sua bancada. E existe algo mais brasileiro, folclórico e até enternecedor do que Sarney e seu amor pela mesa diretora? Falar mal do Sarney é um pouco como falar mal de um velho tio excêntrico, mas cujas peripécias divertem a família.
Tudo se perdoa e tudo se aceita com a frase “Que figura...”. O indestrutível Sarney representa a persistência do gosto nacional por “figuras”.

Mas há um caso flagrante de sub-representação no Congresso, além dos sem-terra e dos pobres. Quando o senador Paim olha em volta do senado não vê nenhum outro negro como ele a não ser um eventual garçom servindo o cafezinho. Nada é perfeito.

Veríssimo - Jornal O Globo - 6 de fevereiro de 2011

8 comentários:

  1. Faltou dizer que os gays têm - ou melhor, tinham - uma representação no Congresso: Clodovil, gente! Mas ele se foi, e isso não conta.

    Não acredito que quem tenha votado em Tiririca não sabia nada de nada. Votaram nele porque, entre todos os palhaços, talvez ele fosse o mais engraçado. E nos representa bem, nós, que somos um bando de palhaços.

    Belo texto.

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  2. Tiririca, a meu ver, é um palhaço que perdeu a graça... Já não arranca mais risadas e talvez deva arrancar dinheiro, rs.

    Tiririca é mais um peão comandado pelas grandes cabeças que se escondem por trás de alguns ex-inocentes... e às vezes nem se escondem, rs.

    Acredito que votar no Tiririca significou a troca de uma ilusão por outra: ao invés de votarem em um que disfarçe a sua incapacidade, votaram naquele que a expõe, apenas pela aparente "sinceridade"... Não importa o quão despreparado ele esteja, mas apenas pelo fato de fazer algumas piadas na TV e fazer com que o cidadão comum se veja nele de certa forma, já é certeza de alguns milhares de votos.

    E com ele, mais quantos foram esquentar seus gordos rabos nas poltronas confortáveis do planalto?

    Realmente, nada melhor que um palhaço para representar este circo em que vivemos.

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  3. Ultimamente, estou com muita vontade de pular fora desse circo. Só falta o dinheiro, né? Aí a coisa fica feia, rs.

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  4. Quem sabe eu e você não abrimos um negócio? Quem sabe uma locadora? rs

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  5. Aqui no Brasil? Se a gente quisesse ganhar dinheiro com locadoras, só teria que colocar filme ruim, rs. Mas aqueles bem ruins mesmo, tipo "Velozes e Furiosos" e "American Pie" da vida. Daí, talvez, daria pra dar um dinheirinho... rs

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  6. É verdade... teríamos que nos vender pra ganhar dinheiro! Estou pensando em ser comissária de bordo, rs. Já pensou nesta ideia?

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  7. Comissária de bordo? Por que diabos quer ser isso? rs

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  8. Pela oportunidade de conhecer diferentes lugares no mundo, oras. Além do que, servir é uma grande lição de humildade. O que pega é a complexidade dos testes de proficiência em inglês que são feitos.

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